Secção Musgo Viscoso
A estória repete-se, como comédia. Depois da unanimidade no congresso em torno do doutor Calimero Lopes, apenas quebrada pelo doutor Marques Mendes, os canivetes da traição afiam-se na penumbra da intriga.
É agora a vez do soi-disant cavaquismo, através de fontes próximas, enviar sondas para os jornais insinuando que aposta na derrota eleitoral do doutor Calimero Lopes para lançar para a presidência do PSD o inefável professor Marcelo, um imigrado para a reserva da nação, uma vítima das sevícias mediáticas da aliança do populismo com a oligarquia financeira (esta é digna do doutor Anacleto).
Se a coisa falhar, os cavaquistas já têm suplente para o professor Marcelo - o doutor Marques Mendes, que sendo o mais baixo deles todos acaba por ser o mais alto. Fazem bem porque com o professor Marcelo (um especialista na pequena intriga) nunca se sabe.
Os cavaquistas anunciam também a boca chiusa que o doutor António Borges - a reserva financeira e moral da nação - apoiará a candidatura do professor Marcelo. Certo, certo, só mesmo o profundo e compreensível desejo do doutor Borges continuar longe desta trapalhada.
E o que pretendem os cavaquistas? Jogar bilhar às três tabelas para abrir caminho à elevação do doutor Cavaco à presidência da República.
Podem estar bastante enganados. Talvez o doutor Calimero Lopes tenha um resultado «honroso». Talvez o doutor Calimero Lopes, apesar de mal amado pelos média e odiado pelos grupelhos que se consideram a si próprios a intelligentzia do reino, continue a ser bem amado pelos aparatchiks. Talvez os seus opositores continuem com a mesma falta de tomates para uma pega de caras num congresso. E, por todos estes talvezes, talvez o doutor Calimero Lopes só saia pelo seu pé de presidente do PSD depois de ter assegurado o apoio à sua candidatura à PR, deixando o doutor Cavaco com tempo livre para continuar a ler Thomas Moore e Thomas Mann na varanda da vivenda Mariani.
São só talvezes. O que é certo e seguro é que um partido neste estado não está capacitado nem para se reformar a si próprio, quanto mais o país.
Por tudo isto, e para fechar um dos anos mais tenebrosos para a estória do PSD, atribuo-lhe 4 chateaubriands, pela confusão, e 5 bourbons, por continuar igual a si próprio.
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