(Continuação)
Era politicamente inevitável que Durão Barroso aceitasse a presidência da CE?
Não. Em primeiro lugar, porque não foi a primeira escolha. Antes, outros foram considerados. Por exemplo: Guy Verhofstadt, primeiro-ministro da Bélgica (apoiado pelo eixo Paris-Berlim e recusado por Blair), Chris Patten, conservador inglês, membro da CE (recusado pelo eixo). Outros consideraram-se não disponíveis, por estarem comprometidos com os cargos presentes, tais como:
+ Peter Sutherland, antigo comissário e actual presidente da Organização Mundial de Comércio
+ Bertie Ahern, primeiro-ministro irlandês e presidente em exercício da UE
+ Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro luxemburguês.
Porque é que Durão Barroso, com razões mais fortes, não se juntou ao clube?
Por respeitáveis razões pessoais, que não são politicamente respeitáveis.
Qual a importância política para Portugal da sua nomeação?
Será que o doutor Soares tem razão quando classifica a nomeação como «presente envenenado» e Durão Barroso como uma «terceira ou quarta» escolha ? Pode ser. Mas o doutor Soares - um candidato à presidência do parlamento europeu que não conseguiu ser escolha, nem terceira, nem quarta, nem nenhuma - não tem autoridade moral para dizer isso. O doutor Soares terá mais quando escreve que Durão Barroso é um candidato «cómodo, fraco e sem carisma - e, por isso, consensual - sem capacidade de se opor aos líderes europeus».
Qual o prestígio que a nomeação comporta?
É melhor procurar a resposta na imprensa internacional credível. Por exemplo, The Economist que sairá no sábado escreve:
«Durão Barroso, currently prime minister of Portugal, is a widely respected figure from the centre-right but he is also a compromise figure. He was hardly anyone's first choice, rather the best remaining option once those candidates that offended one or more of the EU's biggest members were eliminated from the race.»
«He has done a good job running Portugal. Since coming to power in 2002, he has pushed through an austerity programme to bring the country's budget deficit back within the limits that members of the European single currency are supposed to observe (whereas France and Germany have continued to exceed the limits). Britain likes him because Portugal stood with other Atlanticist EU countries in supporting the American-led war in Iraq.»
Não sendo irrelevante para Portugal a sua nomeação, qual será o benefício líquido dos custos internos?
Carece de demonstração a sua existência. O benefício bruto não é assim tão significativo («The choice of Mr Durão Barroso does not answer Henry Kissinger's famous question, of who to ring if he wanted to speak to the leader of Europe», escreve The Economist) e os custos potenciais do abandono das tímidas reformas são incomensuráveis.
Se a maioria dos portugueses entende que devem ser convocadas eleições antecipadas, deverá o PR, sem mais delongas, adoptar a «vontade popular»?
Se sim, porque não convidar, sem mais delongas, o doutor Santana Lopes para formar governo, já que é a personalidade que vem à cabeça nos primo-ministeriáveis?
Não e não. O estado democrático não se funda em sondagens ou manifestações, muito menos em maninfestações. Os governos têm um mandato para governar durante uma legislatura, salvo as situações excepcionais previstas na constituição.
Se dos dispositivos constitucionais resulta que o PR deve aguardar que o partido maioritário nas últimas eleições lhe apresente uma alternativa de governo, deve o PR aceitá-la, qualquer que seja?
Não. É sua obrigação avaliar se essa alternativa assegura a continuidade das políticas do governo anterior e garante a estabilidade da governação até ao fim da legislatura. Essa estabilidade assenta, entre outras coisas, na consensualidade da escolha dentro do partido maioritário e na manutenção da coligação que garante a maioria parlamentar. Se o PR não estiver razoavelmente convencido que a continuidade das políticas e a estabilidade governativa estão asseguradas deve, então, e só então, convocar eleições antecipadas.
E se o PSD escolher Santana Lopes para suceder a Durão Barroso?
Essas condições não estarão reunidas, a menos que Santana Lopes tivesse o improvável bom senso político de propor um primeiro-ministro com o perfil, as competências e a experiência adequados, e refrear-se a si próprio de intervir. A menos que esse primeiro-ministro reunisse uma equipa com o perfil, as competências e a experiência adequados, e, já agora, com um quanto-baste de visão liberal e reformista. É um A MENOS QUE demasiado grande.
Porquê Santana Lopes não tem essas condições?
Pacheco Pereira escreveu hoje no Público, com notável clareza e frontalidade, as coisas que devem ser ditas a este respeito.
Quais são os cenários mais prováveis?
Um governo liderado por Santana Lopes, aliado a um Paulo Portas em roda livre, um governo populista e despesista, que arruinará por uma década as reformas necessárias ou um governo frouxo e despesista,liderado por Ferro Rodrigues, aliado a um tele-evangelista em roda livre. que arruinará por uma década as reformas necessárias.
E o país está preocupado com isso?
O que é que isso interessa se podemos ser campeões da Órópa?
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