18/02/2004

DIÁRIO DE BORDO / LOG BOOK: A educação dos infantes é coisa para gente normal. / Parental education – a common sense exercise.

SUMMARY for the sake of those foreign souls coming from outer space who are not able to read Portuguese:
After many years of insanity, more and more pediatrists start to discover that children are just children, as they used to be since many years. Parents need to feed their children, to love them, to educate them, to teach them rules. To punish them too, if needed.
By the way, they also are discovering that girls and boys are different, and because of that there are sound reasons for girls to prefer barbies and for boys to prefer action men. I mean reasons beyond the well-known conspiracy of toys multinational corporations (faites attention M. Bouvé, il y a un tas de choses pour brûler !).
Parents should accomplish their duties, rather than with too much reading, with a lot of common sense, something still hard to find in books about children education.


Faço parte da geração Spock. Não dos filhos, mas dos pais dos filhos. O doutor Spock e os pediatras dos sixties tinham da educação dos infantes uma ideia perfeitamente lírica. No fundo eram adeptos de Rousseau, sem o saberem. Os filhos eram para eles os bons selvagens que os pais se deviam esforçar por não infectar com educação, disciplina, regras, etc.
Felizmente consegui nunca ler a bíblia spockiana ou outras e só sofri a contaminação ambiental. Acabei por criar os filhos com um misto da receita tradicional, bom senso, senso comum e, por vezes, falta de senso.

A primeira vez que verdadeiramente me dei conta que havia algo errado nesta abordagem foi há 25 anos na cidade da Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Vi então, durante duas semanas, um conhecido poeta português a correr no restaurante do hotel, nas horas das refeições, atrás do seu rebento que gritava, puxava as toalhas da mesas, deitava talheres ao chão, até se cansar, meia hora mais tarde, e aceder sentar-se, por uns minutos, antes de iniciar um novo ciclo. Tudo isto sob o comando da esposa do poeta, uma professora da faculdade de Letras, que instruía constantemente o cônjuge para o coitado deixar a criança desenvolver a sua criatividade. A cena repetiu-se o tempo que o casal lá esteve para transmitir aos indígenas a sua ciência sobre não sei o quê.
Um amigo e colega, que partilhava comigo as refeições e esses deliciosos momentos de visão da nova pedagogia em movimento, deixou de frequentar o restaurante com receio que lhe desse o fanico.

Foi nessa altura que percebi, definitivamente, a grossa asneira dos «novos» métodos educativos. A observação, em múltiplos casos, da idiotia adolescente resultante de 12 ou 13 anos de aplicação esforçada e intensiva desses métodos nos tenros crânios, convenceu-me em definitivo.

25 anos depois é visível - louvado seja o Senhor - o refluxo dessa corrente paralisante do bom senso parental. Ao folhear nas livrarias as obras mais recentes para os jovens pais começam a encontrar-se coisas um pouco menos lunáticas. Fiz este exercício a partir duma referência que li, não sei onde, a um livro cujo título é, por si só, um exercício do politicamente incorrecto na pediatria - «O método Brazelton – A criança e a disciplina».

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