Não há nenhuma diferença entre homens e mulheres (além das óbvias, naturais e bem-vindas); há uma diferença fundamental entre pessoas medíocres e pessoas inteligentes, escreveu ontem a Bomba Inteligente.
Ao ler estas declarações sobre matéria de fé, o Impertinente disse para os seus botões: uma das grandes realizações do machismo foi conseguir que a condição feminina aceitasse a superioridade do modelo masculino, acreditando que a ascensão a esse patamar superior da humanidade exigiria negar as diferenças, excepto, claro as óbvias, naturais e bem-vindas. Talvez os militantes da condição feminina devessem valorizar as diferenças não óbvias e naturais, que estas, por definição, não precisam de ser valorizadas e, muito menos, precisam de ser bem-vindas, porque sempre cá estiveram e sempre cá estarão, se a engenharia genética não for usada para criar Frankensteins e She-Frankensteins.
O dogma desta religião igualitária resulta duma confusão irremediável, talvez fácil de ocorrer em quem não tem filhos ou só os tem mesmo género, ou para quem só vê os diferentes géneros aos domingos. Seja como for, quem tem as responsabilidades de ser mãe ou pai, de filhos do mesmo género ou de géneros diferentes, pode ser praticante, mas terá pouca vocação, e pouco tempo, para o sacerdócio, que nesta religião está confiado a celibatários ou casais sem filhos, a gays, lésbicas, bissexuais ou praticantes de sexo itinerante e aos cultores do politicamente correcto.
O resto da humanidade fraqueja na sua fé. Mas para as criaturas, com um módico de bom senso, que tenham criado filhos machos e fêmeas, ser sacerdote está fora de causa e até fica difícil ser fiel duma religião todos os dias contraditada pela observação da profunda diferença não óbvia entre os géneros.
Os casos irredutíveis resultam duma mente empanzinada com ideologia e preconceitos, ou da sua inflamação com os axiomas do politicamente correcto. O Impertinente tem um amigo cuja filha antropóloga - uma das áreas preferidas para o pouso do emplastro - só ficou com a sua fé abalada quando, a seguir a uma filha, teve um filho e, apesar dos seus esforços igualizadores, foi sucumbindo às persistentes diferenças de género, constantemente presentes nos interesses, nas emoções, na sua expressão, nos jogos, na relação entre si, com os pais e com toda a gente.
E qual o problema da diferença óbvia e não óbvia? Nenhum.
Onde talvez haja um problema é no dito da diferença entre pessoas medíocres e pessoas inteligentes. Mais exactamente, no não dito. O que é a inteligência? Há uma coisa chamada “a” inteligência? Um prémio Nobel da Física é mais inteligente do que um pintor? Um jogador de futebol medíocre é mais medíocre do que um escritor falhado? Qual é a diferença entre um bailarino falhado e um cineasta medíocre? Um filósofo de café é mais inteligente do que um competente gestor de empresas? Um intelectual de tertúlia que nunca mexeu uma palha é inteligente porque articula a vacuidade com elegância? Um engenheiro de sistemas é medíocre porque nunca leu Proust?
Mas esta é outra conversa que não cabe na Condição Masculina.
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