Não é todos os dias que temos a alegria de ver a capa duma revista internacional dedicada ao nosso torrão natal, ainda para mais tratando-se de Bragança - o cantinho do torrão.
Quem traz a alegria aos patriotas é a edição europeia da Time, com um longo artigo que tem o carinhoso título When The Meninas Came To Town e é dedicado às garotas do alterne de Bragança e ao levantamento das mães bragantinas.
Como este foi um caso bastantemente estudado pel’O Impertinente, aqui vão 3 estórias desenterradas do arquivo morto, para quem não tem tempo de ler as densas páginas da Time.
À guisa de lembrança, O Impertinente recorda que a Cotec, mencionada nas estórias, é uma instituição criada sob a égide do PR para promover a inovação e a produtividade para o nosso torrãozinho natal ficar parecido com a estranja do lado da produção, como já está do lado do consumo.
04-05-2003
Do Portugal real para o Portugal virtual
Também durante a semana, ficámos a saber da ameaça de dissolução das famílias de Bragança causada pela infidelidade marital, atribuída à atracção fatal pelas garotas brasileiras dos bares de alterne da região. As auto-intituladas Mães de Bragança, à míngua de sedução, mas demonstrando uma aguda sensibilidade política, divulgaram um «manifesto» contra a concorrência daquelas profissionais e apelaram à intervenção das autoridades. Diz-se que, em privado, se receia nos lares transmontanos a transferência dos centros de decisão familiar, desta feita para o Brasil.
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11-05-2003
As mães bragantinas e a inovação
A estória ...
O alterne em Bragança ameaça tornar-se um case study da alma nacional.
Como em todos os problemas, este também tem dois lados: o lado de dentro e o lado de fora.
Do lado de dentro, podemos ouvir uma das mães bragantinas a queixar-se que «antes, estava tudo bem. Quando abriram estas casas de prostituição eles ficaram perdidos. Sabemos que só vão lá por que também temos a certeza que os drogam. Não imaginam como é que eles vêm de lá.» E que fizeram as mães bragantinas? Apelaram às autoridades. Errado. Deveriam ter apelado à Cotec.
Do lado de fora, temos o empresário do alterne que diz que «os maridos chegam a casa e encontram as mulheres a cheirar a gordura, cheias de problemas e mal dispostas. As brasileiras são limpinhas, cheirosas e meigas».
Qual é afinal o problema das mães bragantinas neste mundo em que a concorrência está globalizada? É a falta de inovação, pois claro.
Mais um desígnio nacional para a Cotec e o nosso presidente da República. Mães de Bragança e de todo o Portugal tomai os vossos banhinhos e ponde-vos bem dispostinhas, ficai cheirosas, sede meiguinhas e (um grande «e») aparai o viçoso buço. Vereis que os vossos homens não fugirão para o alterne, nem ficarão sentados no sofá a beberricar cervejolas e a arrotá-las para cima do vosso buço.
... e a moral é ...
A navio roto, todos os ventos são contrários (ditado popular)
24-06-2003
O livro de reclamações
A estória, já aqui contada, do manifesto anti-alterne das mães bragantinas teve um novo episódio.
Comovidas pelo viçoso buço molhado de amargas lágrimas das mães e preocupadas pelos traumas nos tenros infantes produzidos pelo sofrimento maternal, as autoridades bragantinas atacaram o problema. Presumivelmente, fizeram-no na falta das iniciativas adequadas das bragantinas, que continuaram «a cheirar a gordura, cheias de problemas e mal dispostas», incapazes de enfrentar a concorrência das meninas do alterne «limpinhas, cheirosas e meigas», como sabiamente explicou, em devido tempo, o empresário do alterne.
Foi um rodopio de pedir vistos e autorizações de residência às meninas do alterne, mas também de proceder a auditoria aos respectivos estabelecimentos. A diligência das autoridades foi incontornável, como explicou à RTP o chefe da polícia local, que avançou mesmo o argumento definitivo: «não havia livro de reclamações».
Mas afinal, sendo elas «limpinhas, cheirosas e meigas», para que seria necessário o livro de reclamações?
Para nada. Eu, se fosse empresário do alterne, iria já reclamar à Direcção Geral da Concorrência e Preços e exigir que os lares bragantinos também tivessem livros de reclamações.
... e a moral é ...
Não há maior feitiço que o melhor serviço (sabedoria popular).
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