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22/01/2018

ACREDITE SE QUISER: Quanto mais, mais; quanto menos, mais; ...

Segundo um estudo citado pela Economist, baseado em dados do UK Biobank referentes a meio milhão de pessoas, a correlação entre os componentes genéticos de certos atributos humanos e o número de descendentes de cada pessoa (factor designado como «lifetime reproductive success») deu os seguintes valores (os valores positivos significam uma relação no mesmo sentido - por exemplo, mais descendentes<->maior índice de massa corporal; valores negativos significam o contrário - por exemplo, mais descendentes<->menor nível educacional):


Repare-se que os componentes genéticos do nível educacional (educational attainment) e da capacidade para pensar em abstracto e resolver problemas (fluid-intelligence score) apresentam as correlações mais negativas com o sucesso reprodutivo medido pelo número de descendentes. De onde se poderia concluir que a inteligência média da espécie humana poderá ter tendência a decair visto que são os menos dotados que têm mais descendentes ou os que têm mais descendentes são menos dotados (passo ao lado do distinguo que é muito perigoso) É claro que, uma vez mais, correlação não é causação. Em todo o caso, e uma vez mais, é melhor ligar o desconfiómetro.

2 comentários:

Anónimo disse...

O seu post sobre o estudo sucesso reprodutivo é muito interessante mas também muito complicado de ler. Provavelmente terei que ir ler o texto no Economist, coisa que ainda não fiz.

Por exemplo, percebo bem que quanto mais tarde uma mulher tiver o primeiro filho, menos filhos ela terá (que é o que me parece lógico, mesmo sem estudos)? É que essa leitura resulta em quanto mais tarde a idade de menopausa, menos filhos ela terá, e isso já não me parece nada lógico. Ou quando mais velha for aquando do primeiro período, mais filhos terá (contra intuitivo, até poderia aceitar, mas torna complexa esta análise).

Também podemos dizer, em palavras simplistas, quando mais gordos (eles e elas) mais filhos terão?

Ou quanto mais pobres, mais filhos (assumindo uma correlação positiva entre nível de educação e sucesso financeiro)?

Para além da complexidade das métricas usadas, julgo que o que se conclui, e isto parece-me estar a par da realidade, a elite será constituida por um grupo cada vez mais reduzido (em termos relativos, pois em termos absolutos ele estará a crescer) e, viceversa, o haverá um grupo cada vez maior, tanto em termos relativos como em termos absolutos, de "second class people", com todo o cuidado que temos que ter nestas classificações.

Lembro-me de um estudo de há uns anos que dizia que no futuro, 2100?, a classe dirigente seria constituida por homens e mulheres altos, bonitos, bem constituidos enquanto os seguidores seriam pequenos, feios, com problemas físicos...

Agent Provocateur

Impertinente disse...

M le Provocateur, cher Agent
Receio que para se perceberem as conclusões não adiante muito ler a Economist cujo artigo, além do diagrama, tem 20 linhas e pouco mais de uma centena de palavras.
Adiantará começar por considerar duas coisas: (1) o estudo não relaciona o sucesso reprodutivo (medido pelo número de descendentes) directamente com os factores indicados e (2) correlação não é causação.
Explicando-me:
O estudo não relaciona directamente o número de descendentes com «age at birth of first child»,…, «body-fat percentage», «age at first period», mas com «genetic contributions to certain humain traits», isto é com os proxies genéticos («proxy variable is a variable that is not in itself directly relevant, but that serves in place of an unobservable or immeasurable variable». De onde, entre outras coisas, não se poderá concluir que ser gordo torne as pessoas propensas a ter mais descendentes, mas no máximo que ter os genes associados à obesidade tem uma relação (mais forte nos homens do que nas mulheres) com o número de descendentes.
A correlação negativa ou positiva de uma variável com outra pode ser significativa por várias razões, incluindo a existência de uma terceira variável que as condiciona. Exemplo: provavelmente os olhos escuros têm uma elevada correlação positiva com a pobreza e os olhos claros uma baixa correlação e, se for assim, isso não significa que as pessoas com olhos escuros sejam mais propensas a serem pobres. Significa provavelmente que os países onde predominam os olhos escuros têm um rendimento per capita mais baixo do que os países onde predominam os olhos claros.
Dito isto, a única conclusão que retirei continua a parecer-me plausível: a inteligência média da espécie humana poderá ter tendência a decair visto que são os menos dotados que têm mais descendentes ou os que têm mais descendentes são menos dotados.