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30/03/2017

ESTADO DE SÍTIO: Habituem-se (7)

Outros Habituem-se

Por muito que aqui no (Im)pertinências se prognostique o fim da geringonça (leia-se a série Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça que já vai em 76 episódios) e, para sermos sinceros, se deseje, para bem do país, isso não significa que ela faleça espontaneamente numa bela manhã de nevoeiro.

O último Habituem-se de há quase três meses, foi a propósito do artigo do FT «Costa confounds critics as Portuguese economy holds course» que foi devidamente exaltado pela máquina agiprop da geringonça que controla quase todas as redacções. Este Habituem-se é a propósito de um outro artigo da imprensa inglesa, desta vez a Economist «Portugal cuts its fiscal deficit while raising pensions and wages» que tem como subtítulo «The Socialists say their Keynesian policies are working; others fret about Portugal’s debts». Preparai-vos para nos próximos dias a máquina de propaganda deturpar o artigo e alardear as grandes realizações da geringonça, alegadamente segundo uma revista de referência.

Não deixando de apontar os pés de barro da governação socialista, é certo que a Economist faz uma apreciação líquida positiva. E seria difícil não o fazer porque, na aparência, visto de St James's Street ou de Southwark Bridge, a 3 horas de voo de S. Bento, numa Europa em turbulenta decadência, os problemas portugueses face aos gregos, por exemplo, parecem insignificantes - e são-no para britânicos enrascados com o Brexit, holandeses a recuperar do susto, franceses que se sentem ameaçados por Le Pen, italianos sob influência do palhaço Grillo, alemães inquietos com o problema dos refugiados e todos a verem as rachas do edifício da construção europeia em risco de colapsar.

Para observadores informados e atentos à realidade portuguesa subterrânea, as canalizações e a infraestrutura da economia dão outros sinais. E não é só a dívida pública e privada e a dependência cada vez maior do BCE, é a enorme bomba do crédito malparado e sobretudo uma economia descapitalizada convivendo com produtividades baixíssimas que só poderiam aumentar com um investimento maciço que não existe, nem existem meios financeiros para o fazer, porque não existe poupança das famílias, nem investimento estrangeiro produtivo.

Entretanto, isso não significa que a geringonça não possa continuar a flutuar iludindo a realidade, sobretudo se ajudada por um clima económico internacional favorável, pelo aumento do turismo e, claro, por uma realidade paralela construída pelos mídia arregimentados por uma geringonça que atrela a esmagadora maioria dos jornalistas. Como também pode afundar-se rapidamente, por ocorrências aparentemente menores, como um outlook negativo (pouco provável) da DBRS, a única agência que mantém a notação acima do lixo.

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