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17/01/2017

ARTIGO DEFUNTO: Como trespassar a falha de duas pernas de um tripé para uma quarta perna

«No enquadramento clássico do regime, o PCP e BE estavam fora do arco governativo por razões óbvias. Os obituários de Soares reavivaram essas razões. Nesse quadro, a direita, sobretudo o PSD, estava sempre presa a uma ética de responsabilidade tramada: estava na oposição, mas era sempre chamada à pedra nas horas h - caso contrário, o PS não conseguia governar e cairíamos num cenário à I República. Ora, foi este arranjo clássico que Costa destruiu para se manter no poder. António Costa rasgou décadas de convenções entre PS, PSD e CDS. Foi Costa que destruiu todas as pontes. Que pontes pode agora o PSD percorrer para chegar até Costa, que, para se aninhar no colinho da extrema-esquerda, queimou as regras não escritas que garantiam um mínimo de respeito entre PS e PSD? Por outras palavras, Costa libertou o gordinho. Já não há gordinho, porque já não há arco governativo. 

Se PCP e BE não estão ainda preparados para governar, então temos de ir de novo para eleições, por muito que isso irrite o Marcelinho dos afetos. Esta é a grande questão política. Até porque metade do país não pode ser tratada como o gordinho em quem se pode bater em impunidade. Costa desrespeitou a direita através da maior traição política em décadas. E agora exige à mesma direita que apareça desprovida de orgulho para lhe aprovar uma lei? Isto é transformar o maior bloco político, social e cultural do país (a AD, ou PaF) numa flor na lapela do PS. Não é aceitável nem desejável. A democracia não pode ser o pátio onde o rufia com boa imprensa faz o que quer.»

«O gordinho», Henrique Raposo no Expresso Diário

O tripé que precisa de apoio
O trespasse da responsabilidade pela recusa de duas das três pernas do tripé suportarem a geringonça, no que respeita à redução da TSU para compensar o aumento do salário mínimo, negociada pelo governo na Concertação Social, violando os acordos com o BE e os Verdes, para uma quarta perna (o PSD) é provavelmente uma das «reversões» mais extraordinárias que Costa e o PS conseguiram até agora. Quarta perna contra a qual as outras três há um ano construíram um tripé chamado geringonça.

É claro que não é tudo mérito de Costa. Uma parte é mérito do tripé do jornalismo de causas que infesta as redacções ter funcionado convenientemente, porque todos estavam interessados em entalar o PSD para não ficarem entalados e colocando em risco a geringonça face à evidência do voto contra de comunistas e bloquistas.

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