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31/08/2016

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (44) O clube dos incréus reforçou-se (IX)

Outras marteladas.

Na subsérie de posts «O clube dos incréus reforçou-se» tenho vindo a dar conta do número crescente de cépticos que estão a romper o aparente consenso sobre as medidas não convencionais que nos últimos anos alguns bancos centrais (nomeadamente Fed, BOE, ECB e BOJ) adoptaram, consistindo em taxas de juro negativas, nulas ou próximas de zero e alívio quantitativo, isto é injecções maciças de liquidez através da compra de dívida pública e privada.

Entre os cépticos mais recentes, começo por citar Robert Skidelsky, membro da British House of Lord, professor emérito de Política Económica na Warwick University e, nas suas próprias palavras, biógrafo e aficionado de John Maynard Keynes, que mantendo-se fiel às soluções de Keynes e concedendo um papel primordial ao investimento público conclui num artigo recente: «as taxas de juro negativas são simplesmente uma distracção do que deveria ser uma análise mais profunda do que deu errado - e que continua a dar errado

Também John Cryan, CEO do Deutsche Bank, declarou há dias «a actual política monetária está a comprometer os objectivos de reforçar a economia e tornar o sistema bancário europeu mais seguro».

James Grant, um guru de Wall Street, aponta o risco, muitas vezes referido nesta série de posts, das «taxas de juro muito baixas induzirem especulação e investimento imprudente e má alocação de capital» e considera o mercado de dívida soberana como o mais sobrevalorizado em todo o mundo, «onde não se ganha nada ou menos do que nada para ter o privilégio de emprestar dinheiro a um governo que se comprometeu a depreciar a moeda em que estamos a investir».

A descrença atinge até a Bloomberg, cujos analistas foram até recentemente adeptos fervorosos do QE e das taxas evanescentes. Num artigo recente, transcrito no Público, dois deles põem a tónica nas limitações das políticas monetárias apontando o risco de «os bancos centrais continuarem fechados num ciclo de estímulos que não conseguem quebrar».

A falta de fé vai para além das políticas monetárias não convencionais e chega até a pôr em causa os supostos poderes miraculosos dos bancos centrais que, segundo um estudo recente de Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton da London Business School, compreendendo o período de mais de um século, historicamente parecem estar a ser manipulados pelos investidores. Usando as palavras da Economist num artigo significativamente intitulado «Slaves of the markets», «os investidores podem, assim, ter aprendido que, se eles fizerem as suas birras como as crianças, os bancos centrais no final virão em seu socorro. A longo prazo isto pode ter encorajado o comportamento de risco do tipo que era comum no período que antecedeu à crise de 2007-08».

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