Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

08/08/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (43)

Outras avarias da geringonça.

«Quem te avisa teu amigo é». A geringonça não aprende com a sabedoria popular e continua com os mesmos não amigos a que vai juntando novos, como o comissário europeu Günhter Oettinger que mandou dizer que a «ameaça de corte nos fundos estruturais do orçamento europeu é séria» e que devemos pôr as contas em ordem «com urgência».

A UTAO, um dos antigos não amigos, vem outra vez desmentir o governo, que prometeu mais medidas em troca da não sanção e acrescenta que, não só tem de aplicá-las no equivalente a 0,25% do PIB este ano, como ainda terá de aplicar medidas adicionais no caso de haver desvios (you can bet on that). Desvio que a própria UTAO já antecipou ao estimar em 2,88 mil milhões o défice do primeiro semestre em contabilidade nacional, que é o que importa para Bruxelas, colocando o défice do ano acima de 3% do PIB e muito acima da meta dos 2,5%. A isto o governo responde pela boca da S-G Adjunta do PS: são «fantasmas sobre a realidade económica do país» - tomemos nota para memória futura.

A Fitch, outro dos inimigos de estimação, também já avisou a geringonça que o défice poderá atingir 3,4% este ano e 3,3% no próximo, enquanto o crescimento do PIB não ultrapassará 1,2% este ano.

Não admira, portanto, que, ao arrepio da evolução das taxas da generalidade dos outros países da Zona Euro, Portugal é praticamente o único país onde aumentaram nos últimos doze meses as taxas de juros a 10 anos, como se pode ver no diagrama do Insurgente que reproduzo.


O governador do Banco de Portugal parece estar gradualmente contaminado pela metodologia da geringonça de empurrar com a barriga para a frente os problemas e anunciou que a reserva de fundos próprios poderá ser constituída gradualmente até Janeiro de 2019. O ministro das Finanças, pensando na embrulhada da Caixa que tem ao colo, diz que «é uma boa notícia», como diria um doente crónico sem dinheiro para a farmácia a quem o médico consola com um «deixe lá, compra quando puder».

Por muita engenharia orçamental que a geringonça realize apresentando execuções fiscais miraculosas no primeiro semestre, «o algodão não engana», como se dizia aquele script da Sonasol. Neste caso, o algodão é o crescimento da dívida pública de 8 mil milhões no 1.º semestre (ou seja 4,4% do PIB em 6 meses) e 2,4 mil milhões só em Junho a que somam 0,3 mil milhões de redução da almofada de tesouraria em depósitos em bancos deixada pelo governo anterior. Onde já vimos este filme da dívida a crescer mais depressa do que o défice? Durante o consolado de José Sócrates, pois claro.

Vou gastar pouca cera com o ruim defunto das alterações ao IMI resultantes da reponderação de alguns coeficientes relacionados com a exposição solar e a vista. Estas alterações desencadearam uma onda de indignações por parte da oposição e até dos parceiros da geringonça, quando na verdade tem um efeito marginal no IMI e evanescente na carga fiscal pletórica que sustenta o Estado Sucial. Foi sobretudo um tiro do governo no seu próprio pé que suscitou aquela demagogia inescapável  («taxar o sol»), que delicia os nossos políticos e excita a populaça. Não vou por aí.

Termino, por hoje, com um comentário às notícias dos 3 secretários de Estado que foram ao Euro 2016 às custas da Galp que é também um tema que propicia demagogias semelhantes às do «taxar o sol». Com algumas diferenças, principalmente no que respeita ao SE dos Assuntos Fiscais que tem a seu cargo um diferendo fiscal com a Galp. Sublinho em particular as reacções do PCP e do BE, ambos com um longo historial de exigir demissões por dá cá aquela palha durante anos. Apesar de condenarem o aproveitamento da oferta da Galp, enfiam vergonhosamente a viola no saco. O governo, por seu turno, pela boca do ministro que já se sabia gostar de malhar na direita e agora se sabe gostar de insultar a inteligência da direita e da esquerda, anunciou a criação de um código de conduta.

Sem comentários: