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06/06/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (34)

Outras avarias da geringonça.

Finalmente ficou resolvida a greve dos estivadores do porto de Lisboa, que já estava resolvida há 4 meses pela ministra do Mar com o tal «acordo de paz social». A geringonça é imbatível: resolve os problemas pelo menos duas vezes. O acordo mais recente (não necessariamente o último) está aqui descrito na versão oficiosa pelo jornal oficioso. Para versões não oficiosas pode ler-se aqui os antecedentes e ali os consequentes.

Resta-me acrescentar a este respeito uns pequenos pormenores: (1) os operadores só podem contratar quem o sindicato quiser; (2) os estivadores terão promoções automáticas, (3) os aumentos serão superiores a 40% (600€ para 850€) nas categorias mais baixas e (4) os salários das categorias mais altas são muito superiores aos do Porto de Leixões - exemplo do nível IV: 1.903€ contra 933€. Estão assim criadas as condições para continuar a decadência do porto de Lisboa cuja quota já desceu metade e representa agora 10% do total do portos portugueses.

Para fechar o tema da estiva, recordo que a ministra do Mar que negociou este «acordo de paz social» é a mesma Ana Paula Vitorino que, na sua encarnação como secretária de Estado dos Transportes de Sócrates, garantiu há 9 anos na abertura do I Encontro Hispano-Luso Empresarial de Logística, em Salamanca, que o seu governo pretendia "transformar" Portugal numa "plataforma atlântica" para os mercados ibérico e europeu. Era a centralidade euro-atlântica, o quinto império da doutora Vitorinoagora rematado com este «acordo de paz social».

Depois de subido de 46.º em 2013 para 43.º em 2014 e para 36.º em 2015 no índice de competitividade da IMD, o Portugal da geringonça desceu este ano para 46.º, abaixo da Turquia. Nada que nos deva admirar com os sinais que a economia da geringonça nos vem dando: crescimento do 1.º trimestre de 0,2% em linha e 0,9% homólogo, a procura externa com um contributo negativo para o crescimento e o investimento a descer pela primeira vez desde o 3.º trimestre de 2013.  Mas o governo não esmorece e já admite mais uma re-posição (25 dias de férias) e admite subir a Taxa Social Única (TSU) nos contratos a prazo, uma excelente medida para reduzir a oferta de emprego temporário e, em consequência, aumentar o desemprego.

Face a isto, Centeno diz que «é necessário ter confiança que conseguimos repor a economia em crescimento», como quem diz temos de ir à bruxa. E com uma falta de vergonha insuspeitada para quem passou a vida a fazer estudos e chegou à política a jurar que o governo «neoliberal» tinha destroçado o país, ou um momento de «dissonância cognitiva», como lhe chamou um apoiante com um surto pontual de lucidez, pede «paciência» e «tempo» para que «as reformas estruturais feitas nos últimos anos se materializem». Quanto ao ministro da Economia, Caldeira Cabral, que parece já ter ido à bruxa, diz que «são números positivos, que reforçam a confiança na economia portuguesa e também a confiança de que pode haver uma retoma mais forte ao longo do ano».

Bem precisa a geringonça de fé, porque a UTAO fez as contas e concluiu que, para atingir as metas de crescimento (1,8%), a economia teria de crescer a um ritmo (0,9% por trimestre) que já não cresce desde a adesão ao euro. A OCDE juntou-se ao cépticos e reviu em baixa as suas previsões do crescimento para 1,2% este ano e 1,3% em 2017, e, pior do que tudo, avisou o governo que escusa de esperar que os efeitos da devolução de rendimentos sejam duradouros. É um aviso curioso se tivermos em conta que até agora esses efeitos na melhor hipótese foram irrelevantes e na pior agravaram as coisas - registe-se que o crédito malparado no consumo aumentou e no crédito para a compra de habitação manteve-se estável.

Voltando à resolução do Banif que a geringonça nos vendeu como uma imposição de Bruxelas, Bruxelas respondeu por escrito que «competia às autoridades portuguesas determinar a estratégia de resolução».

1 comentário:

Unknown disse...

Começo a preocupar-me seriamente; este dão sebatião Costa ainda me aprece mais aldrabão que o ex chefe dele o sr. socrates.Pelo menos é mais eficaz em tornar credível as patranhas que expele.