Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

05/02/2016

Lost in translation (262) – Questões técnicas e questões políticas

Este é o meu contributo para esclarecer algumas dificuldades linguísticas à volta da discussão do OE 2016.
  • Questão técnica: é uma questão de aritmética elementar, salvo se for uma questão política; exemplo: se a despesa aumenta 2 e a receita diminui 1, o défice aumenta 3, salvo se o aumento da despesa for considerado one-off
  • Questão política: é uma questão para os políticos discutirem; exemplo: despesa recorrente é uma despesa que se repete todos os anos mas que no quadro de uma discussão política pode ser considerada one-off, isto é uma despesa irrepetível que se repete todos os anos. 
Esclarecida a hermenêutica, estamos agora em condições de interpretar o texto seguinte, da autoria de Ricardo Costa (podia ser outro qualquer das dezenas que dizem a mesma coisa):
«Há, assim, um claro desfasamento entre as críticas técnicas – muito duras – e algum otimismo político, que parece estranho e ainda é pouco tangível neste contexto. 
Embora a negociação seja eminentemente técnica, há questões sobre a forma de contabilizar certas operações que só podem ser desbloqueadas politicamente. E parece ser aí que o executivo socialista está a apostar todas as fichas.»

Sem comentários: