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01/01/2015

SERVIÇO PÚBLICO: Não precisamos de investir mais, precisamos de investir diferente

«O investimento não foi insuficiente


Em Portugal, o investimento anual médio em percentagem do PIB decaiu de 23,6% na década 1993/2003 para 20,5% na década de 2003/2013. A quebra foi ligeira. No caso da UE15 os valores são 21,0% em 1993/2003 e 20,8% em 2003/2013. Considerando o conjunto das duas décadas (1993/2013) este indicador foi até superior em Portugal: 22,0%, contra 20,9% em média na União Europeia.

O investimento médio anual a preços constantes constantes de 2010 caiu, entre as duas décadas, apenas ligeiramente (1%), passando de 36,5 mil milões de euros em 1993/2003 para 36,1 mil milões de euros em 2003/2013.

A chave para compreender o empobrecimento relativo no país não está, portanto, na escassez de investimento. Ela pode encontrar-se seguindo as pistas do quadro anexo, partindo da observação da evolução da produtividade do trabalho e dos factores que a determinam.


O investimento foi errado


O investimento dirigiu-se a actividades demasiado trabalho-intensivas que propiciam a manutenção de baixas produtividades do trabalho. A colocação em evidência - por razões políticas irresponsáveis e por falsas preocupações sociais - do objectivo de aumento do emprego, em lugar de objectivos da eficiência económica, prolongou e agravou a situação de pobreza relativa do país.

A produtividade do trabalho (valor acrescentado por trabalhador) é inaceitavelmente baixa e pouco evoluiu em 20 anos. Neste período, a produtividade do trabalho em Portugal andou à volta de metade da registada na União Europeia: passou de 51,3% em 1993 para 55,1% em 2013. Em vinte anos houve um ganho de meros 4 pontos percentuais.

A causa fundamental desta baixa produtividade - tema notavelmente ausente do discurso político - reside na baixa quantidade de meios de produção (capital) colocada, em média, à disposição de cada trabalhador e num factor residual dificilmente apreensível directamente mas que nós, os economistas, resumimos com o jargão de "produtividade total dos factores". Este último factor (onde colocamos, entre outros elementos, a formação da força de trabalho), também teve, ao contrário do que seria de esperar, um papel negativo.

O sistema educativo foi desenvolvida sem ligação ao aparelho produtivo, levando a que as notáveis melhorias educativas das últimas décadas não tenham resultado na melhoria relativa da produtividade total dos factores. Pelo contrário, esta, embora tenha melhorado entre nós, evoluiu, menos que entre os nossos parceiros. A produtividade total dos factores cresceu 0,6% em média anual na UE15, contra 0,4% em Portugal.

Por sua vez, o rácio capital/ trabalho em Portugal, relativamente ao da média da União Europeia, passou de 42,2% em 1993 para 57,1% em 2013 - uma recuperação de 15 pontos percentuais em 20 anos.

Com este ritmo não há convergência previsível. É assim que continuaremos a evoluir se se continuarem a fazer maus investimentos (insuficientemente capital intensivos e não baseados em procura autónoma sustentada, isto é, não empolada artificialmente pelo Estado) e se o aparelho educativo continuar entregue a si próprio sem adequação às exigências do mundo empresarial.

Quererão as principais forças políticas enfrentar esta realidade de frente? Ou preferirão preparar mais 20 anos de empobrecimento relativo do país?»

«20 anos de investimento no empobrecimento relativo» por Avelino de Jesus, no negócios online


Se nos lembrarmos das declarações recentes de António Costa sobre o «relançamento da construção (que) é absolutamente capital para o futuro do país», podemos imaginar o que o PS tem para nos oferecer: mais do mesmo.

2 comentários:

menvp disse...

VOTAR EM POLÍTICOS NÃO PODE CONTINUAR A SER PASSAR UM CHEQUE EM BRANCO!...
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-> Mestres Anti-Austeridade [com o silêncio cúmplice de (muitos outros) mestres/elite em economia] enfiaram ao contribuinte autoestradas 'olha lá vem um', estádios de futebol vazios, nacionalização do BPN, etc, etc, etc...
---» Bom, ora, como é óbvio, quem paga (vulgo contribuinte) não pode continuar a ser 'comido a torto e direito'... leia-se: quem paga (vulgo contribuinte) deve possuir o Direito de defender-se!!!
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-» Votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
---> Leia-se: deve existir o DIREITO AO VETO de quem paga!!!
[ver blog 'fim-da-cidadania-infantil'].
NOTA: o contribuinte agradece que sejam apresentadas propostas/sugestões que possibilitem uma melhor gestão/rentabilização dos recursos disponíveis... ou seja: em vez de propostas de aumentos... apresentem propostas de orçamentos!
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P.S.
Uma opinião um tanto ou quanto semelhante à minha:
Banalidades - jornal Correio da Manhã:
- o presidente da TAP disse: "caímos numa situação que é o acompanhar do dia a dia da operação e reportar qualquer coisinha que aconteça".
- comentário do Banalidades: "é pena que, por exemplo, não tenha acontecido o mesmo no BES".

Unknown disse...

Temos que nos ir entretendo com estas analises já que mudar só está dependente dos investidores. E como sabemos 70% dos doutorados "trabalham" no estado. Bom Ano Novo.