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09/08/2014

Mitos (176) – O papel do supervisor é alertar os investidores e os clientes para os riscos dos bancos

Retomo o que aqui escrevi há uma semana, antes da decisão sobre a intervenção: seria sem dúvida uma boa questão perguntar ao governador do BdeP Carlos Costa porquê foi necessário tanto tempo para concluir a extensão dos problemas do BES? Extensão que, aliás, todos os dias aumenta. Porém, é uma pergunta eticamente vedada a quem assistiu com respeitoso silêncio à passagem do ministro anexo Vítor Constâncio pelo BdeP entre 1981 e 1984, em 1985 e 1986 e de 2000 a 2010, com um interregno pela liderança do PS entre 1986 e 1989 (devemos ser o único país no mundo que teve um chefe político à frente do banco central). A estes, só lhes resta retractarem-se retroactivamente ou meterem o rabinho entre pernas.

Não tenho qualquer intenção de limpar a folha de Carlos Costa, nem resistirei em aceitar argumentos sólidos assentes em factos sólidos que demonstrem as suas falhas no caso BES. Contudo, a verdade é que ainda não conheço esses argumentos sólidos. Pelo contrário, todos os que conheço são líquidos… de limpeza das folhas do anterior supervisor, dos accionistas, da administração e, por último, dos revisores de contas (e auditores) KPMG.

Mas há um aspecto em particular -  a crítica que é feita a Carlos Costa de ele não antecipar (na melhor hipótese) ou esconder (na pior) a situação do BES, garantindo várias vezes que o banco não estava em risco - que merece uma análise fria e realista. Uma vez mais, não faço a menor ideia do que se passava na cabeça de Carlos Costa para dizer o que disse, mas estou absolutamente seguro de que se o fez deliberadamente cumpriu a sua missão, como explica aqui LR do Blasfémias de cujas palavras me aproprio:

«Num sistema de reservas fraccionárias com capacidade para “fabricar” dinheiro em catadupa, a confiança no sistema financeiro deve constituir a obsessão-mor de qualquer banco central. Num cenário de instabilidade e de crise num player de referência, aquilo que, acima de tudo, tirará o sono a um Governador, é a eminência de um bank run, que tem sempre riscos de propagação e de alastramento a todo o sistema. Todas as declarações “apaziguadoras” de Carlos Costa “garantindo” a solidez do BES, devem ser entendidas à luz do objectivo maior de evitar uma situação de pânico no mercado, coisa que exige uma gestão “com pinças”, para a qual pouquíssimos estarão habilitados. Ele mentiu? E que impacto teria em todo o sistema se tivesse reconhecido que havia uma corrida aos depósitos e que o BES estava à beira do colapso?»

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